sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Livros de autoajuda ou antidepressivos?



Estava lendo o título de um texto sobre os 21 passos para tornar sua vida mais feliz. E isso sem gastar dinheiro, sem perder tempo e sem desprender muita energia. Logo em seguida um link onde você poderia comprar o livro com esse "tal" manual completo da felicidade.

Devo dizer que fiquei "P" da vida com esse pretenso manual e acabei vindo escrever pra externar minha indignação. Incrível como hoje existem fórmulas milagrosas pra tudo: como ganhar dinheiro rápido ou fácil; técnicas para fazer você “andar pra frente” (como assim?); como organizar seu tempo de forma prática; como ter um casamento feliz e duradouro; como conquistar...; como conseguir sua promoção ou um novo emprego...etc. Será que ninguém tem a mesma sensação que eu de que isso só nos faz sentir ainda pior? Com tantas técnicas e passos detalhados de como ser perfeito e conseguir tudo na vida, como é possível que ainda existam pessoas que não conseguem? Como é possível que  ainda existam pessoas como eu?  Que não conseguem o primeiro milhão e nem tão pouco casar com o Richard Gere? Nossa! Me sentindo uma “fracassada.com”. Será que eu não sei ler? Não entendo bem o que explicam ou sou uma completa idiota sem salvação?

Enfim, não quero desmerecer todos os "manuais" de autoajuda não. Até leio e tenho alguns deles em minha "prateleira" de livros prediletos. Mas sou obrigada a concordar com o jornalista Steve Salerno quando publicou S.H.A.M. (Como o Movimento da Autoajuda Deixou a América Desamparada) onde ele reforça a tese de que esses livros apenas tornam as pessoas mais carentes de manuais de técnica de autoajuda pra tudo tornando-se um círculo vicioso de consumo dessa literatura.

Hoje existem pesquisas (National Health Service) que afirmam que os livros de autoajuda melhoram a vida de pacientes de depressão porque eles conseguem relacionar alguns fatos consigo e assim enfrentar melhor seus problemas pessoais. Por outro lado, alguns anos atrás pesquisas internacionais mostraram que na mesma proporção que a venda de livros desse conteúdo cresciam, assim acontecia com a venda de antidepressivos. Por que seria?

Penso que isso deixa provado que não existe uma fórmula milagrosa pra nada. Os livros de autoajuda passam um sentimento de alívio momentâneo quando você entende que todo mundo está suscetível a ter um “problema” como o seu. E que isso é normal. Mas quando esse sentimento passa, o problema volta a assombrar seus dias e a necessidade de sentir-se novamente dentro dos padrões considerados normais e apropriados para sociedade faz com que você volte a recorrer aos livros na expectativa de que aquela leitura o faça sentir normal novamente. Assim como os antidepressivos, que muitas vezes até possuem sua eficácia questionada. Afinal, imaginar que o problema de uma pessoa pode ser resolvido com um simples comprimido é mesmo dúbio. A possibilidade de ela estar apenas se autossugestionando é muito maior do que uma mudança real do seu estado de espírito por causa de um mero remédio.

Como diria o autor de Wear Sunscreen “não leia revistas de beleza, elas apenas irão te fazer sentir feio.” E eu penso: Não leia receitas milagrosas para resolver os “problemas” da sua vida. Faça seu próprio manual e aprenda a lidar com cada situação de acordo com a sua realidade. Não nascemos iguais, não somos iguais e portanto, não podemos esperar respostas iguais pra tudo. A menos que passemos a encarar e esperar que a vida seja como na ficção de Aldous Huxley, Admirável mundo novo, onde a padronização é uma regra. Será que é isso que queremos? Ser biológica e psicologicamente condicionados?